Exame toxicológico: devo ou não devo fazer no meu filho?

O exame toxicológico pode ser uma ferramenta muito útil para lidar com o uso de drogas de um filho, mas também pode mais atrapalhar do que ajudar. Como toda a ação que visa resolver o problema do uso de drogas, ele também deve estar dentro de uma estratégia mais ampla e não deve ser uma ação isolada.

O exame toxicológico pode ser feito com duas finalidades:

1) Para auxiliar no diagnóstico;

No caso do diagnóstico, ele é feito no início do processo e deve ser o exame do cabelo (veja os tipos de exames toxicológicos e o tempo de detecção de cada um). O objetivo é ter uma ideia real da quantidade de droga que está sendo consumida nos últimos meses.

Essa informação é útil principalmente para o profissional que está acompanhando o caso, como um auxiliar para a definição da modalidade de tratamento indicada. É aconselhável que os pais busquem auxílio profissional antes de realizar um exame desses, ao observarem sinais de que o filho está usando drogas.

2) Como um suporte para o tratamento.

No caso do exame como um suporte para o tratamento, a primeira coisa a considerar é que a realização dele deve ser decidida junto com um profissional que vai ajudar a definir os objetivos do tratamento.

Em geral, quando é optado por realizar o exame durante o tratamento, ele deve ser feito com alguma peridiocidade (a ser definida junto com o profissional) e pode ser o de urina, cujo resultado sai quase imediatamente.

A realização dos exames deve ser sempre acompanhada de combinados com o paciente. Ele deve estar de acordo com a realização dos exames e deve estar de acordo com as consequências caso o exame dê positivo. É fundamental para o  sucesso do tratamento que o paciente participe dele como sujeito ativo e não apenas receptor de decisões dos pais.

Antes de decidir realizar o toxicológico, os pais devem poder responder a duas perguntas: qual é o objetivo do exame? E se der positivo, o que vamos fazer?

O objetivo desses exames periódicos é sempre que o resultado seja negativo! (“negativo” significa que não houve consumo de drogas) Ou seja, ele não deve ser uma forma de pegadinha, em que os pais irão pegar o filho de surpresa frente a uma desconfiança para comprovar que houve uso de drogas. Esse tipo de utilização nunca contribui para o tratamento.

O exame deve servir como uma forma concreta para que o paciente sinta que existe uma estrutura que ele não poderá enganar. É uma forma de suporte para que ele consiga manter a abstinência. É algo que deve jogar a favor dele e não contra.

Caso o exame dê positivo (o que significa que houve consumo de drogas), os pais devem ter já estabelecido quais medidas serão tomadas e essas medidas devem ter sido previamente combinadas com o filho. As possibilidades de ação dos pais frente a um resultado positivo do exame são inúmeras, mas sempre devem ser no sentido de motivar a abstinência do filho e conduzi-lo a engajar-se no tratamento.

Não é nem um pouco produtivo os pais não saberem o que fazer e/ou não fazerem nada frente à comprovação de que o filho usou drogas.

Ressalto a importância de um acompanhamento profissional para todo o processo, pois existem algumas pré-condições que devem ser avaliadas na família para que a realização dos combinados com o paciente e o envolvimento dele no tratamento sejam efetivos. A saber, algumas dessas condições são a estrutura emocional dos pais, o lugar de autoridade ocupado por eles e a alteração de eventuais padrões familiares que podem favorecer o desenvolvimento da dependência de drogas.

Espero que essas considerações sobre o exame toxicológico reforcem a ideia de que não existe fórmula ou solução mágica para resolver problemas relacionados às drogas. Que sempre serão necessárias diversas ações que se complementam (nenhuma ação isolada é efetiva) e um acompanhamento profissional adequado para obtermos resultados favoráveis.

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