Associar maconha a sexo é, sem dúvida, mais uma das brilhantes estratégias da publicidade canábica, lado a lado da ideia de que maconha é natural, da maconha medicinal e de outras que você encontra no livro “Não Dá Nada”.
É comum a argumentação dos usuários com relação à melhora do desempenho e do prazer sexual após fumar um baseado. Afirmam que aumenta a sensibilidade, que facilita a aproximação com o parceiro(a), que aumenta o desejo sexual etc.
Mas antes que alguém se empolgue e pare de ler para testar essa promessa redentora de solução para eventuais insatisfações sexuais, vamos analisar melhor esse argumento.
Primeiro, sempre devemos ter em conta que os efeitos de qualquer droga variam de acordo com a pessoa que está usando e com o contexto em que ela é usada. Tanto é assim que os relatos dos efeitos referentes a mesma droga são os mais disparatados. Um diz ficar alegre, outro triste, um mais sociável, outro mais introspectivo, um diz sentir prazer, outro paranoia, um acha ótimo, outro acha horrível, e assim por diante.
Com relação ao sexo não é diferente. Uns dizem que melhora, outros que atrapalha. Assim como tem gente que acha que um “tapinha” (desculpe o trocadilho) aumenta o prazer no sexo e outros que se desestimulam com isso.
Mas enfim, melhorar o sexo por quê? Está ruim?
Uma pesquisa global sobre satisfação sexual (Durex Global Sex Survey) apontou que mais da metade dos brasileiros afirmam estar insatisfeitos com sua vida sexual. Entre os principais problemas relatados estão a falta de desejo e a incapacidade de atingir o orgasmo (principalmente entre as mulheres), ejaculação precoce, monotonia da vida sexual e falta de sintonia na cama.
Problemas que estão intimamente relacionados a fatores psicológicos e relacionais cuja solução, na maioria das vezes, corresponde a processos complexos e trabalhosos.
Esse contexto é um prato cheio para a publicidade canábica. Um dos artifícios de propaganda para vender um produto é associá-lo às coisas mais desejadas pelas pessoas. Por exemplo, em um mundo de infelicidade, eu uso o slogan “abra a felicidade” para vender um refrigerante. Um atalho fácil e sem esforço (mesmo que ilusório) para o cérebro buscar o que está procurando, atendendo os interesses de uma indústria. Não importa se tem ou não relação com a realidade, mas é assim que a propaganda funciona, criando atalhos para o cérebro.
Em um contexto em que mais da metade das pessoas está insatisfeita com sua vida sexual, é uma ótima estratégia apresentar um atalho fácil e sem esforço através de um produto (a maconha) para que as pessoas vão atrás do que lhes falta, atendendo aos interesses de outra indústria, nesse caso o narcotráfico. Não importa a relação com a realidade, pois se trata de propaganda e de criar atalhos para o cérebro.
Se você está achando absurda a associação entre drogas e publicidade, leia um pouco sobre a publicidade da maconha.
Se analisarmos um pouco mais a fundo o que está relacionado à satisfação sexual, provavelmente encontraríamos o sexo em que os dois sentem prazer, em que cada um consegue se preocupar com o prazer do outro, em que se construiu intimidade suficiente a ponto de esquecer eventuais bloqueios e medos, em que se tem conhecimento sobre as características e preferências um do outro e por aí vai. Novamente questões de maturidade psicológica e relacional.
Não seria essa uma questão que depende de inúmeros outros fatores que ultrapassam em muito o poder de uma substância? Será que a “maconha afrodisíaca” não é mais uma variação da supervalorização da droga característica da publicidade canábica?
Talvez essa e outras mensagens de supervalorização da maconha façam sentido e tenham eficácia num mundo em que tantas pessoas buscam soluções imediatas, mesmo que ilusórias, para problemas complexos. Talvez.
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