De acordo com o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas no Brasil, 26% dos adolescentes de 14-17 anos consomem álcool em binge, o chamado binge drinking. O que isso significa? Que ingerem cinco ou mais doses-padrão de álcool em um período de até duas horas, o equivalente a 5 ou mais latas de cerveja ou shots de vodka nesse período de tempo. (para entender melhor essa questão de doses-padrão por tempo, leia sobre as estratégias antiressaca).
Esse padrão também é observado entre estudantes universitários brasileiros, dos quais um em cada quatro relatou pelo menos um episódio de binge drinking no mês anterior à entrevista no I Levantamento Nacional sobre o uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre Universitários.
Mas qual o problema?
Primeiro, sabemos que, legalmente, bebidas alcoólicas não podem ser consumidas por menores de 18 anos. Portanto, no caso dos adolescentes, qualquer tipo de consumo se caracteriza um problema, mesmo que apenas do ponto de vista legal. E se considerarmos que essa proibição encontra fundamento em aspectos neurobiológicos do desenvolvimento cerebral, acharemos outros problemas além dos legais.
Claro que, do ponto de vista neurobiológico, é diferente um adolescente que tomou uma lata de cerveja em uma festa, de um que tomou mais do que cinco cervejas na mesma festa e de outro que faz isso em todas as festas (que bebe em binge frequentemente).
A grande questão é que quanto mais grave o padrão de consumo, maiores as chances das consequências serem do tipo “não tem mais volta”, tal como a combinação de beber e dirigir ou o alcoolismo (veja alcoolismo na adolescência), que também pode ocorrer na adolescência. E essas consequências valem tanto para os adolescentes quanto para os universitários.
Os estudos sobre o tema apontam que o padrão de binge está associado a situações de coma alcoólico, violência e acidentes e a alterações neurobiológicas sérias em adolescentes. Também foi verificado que este padrão de consumo na fase dos 16-17 anos é um importante antecedente de alcoolismo na idade adulta. Portanto, o binge drinking é um tipo de relação perigosa que o jovem estabalece com o álcool e que precisa ser objeto dos esforços de prevenção.
Mas por que tantos jovens se envolvem nesse tipo de comportamento?
A resposta a esta pergunta, apesar de óbvia, pode oferecer um insight importante para a prevenção: dentre as motivações para envolver-se em episódios de binge drinking, a mais citada é embriagar-se, seguido de outras razões sociais e de enfrentamento. Ou seja, esses episódios não são acidentais, mas intencionais.
Se o objetivo do jovem de tomar em binge é literalmente ficar bêbado ou “ficar doidão” como eles dizem, adiantaria pregar para eles o “consumo moderado” ou “consumo consciente”? Ou dizer para não consumirem álcool devido aos potenciais prejuízos disso na idade? Tomar pouco ou não tomar não os levará ao seu objetivo. Seria uma estratégia de prevenção ineficiente, apesar de os fins serem acertados.
Também é preciso levar em conta que os estudos sobre o tema apontam que o principal fator de risco para que os jovens pratiquem o binge drinking é ter amigos que se embriagam, dando razão àquele velho ditado repetido incansavelmente pelos pais: dize-me com quem andas e te direi quem és.
Portanto, para a prevenção desse tipo de comportamento, é preciso ir um pouco mais fundo do que pregar o “consumo consciente” ou explicar os prejuízos do consumo precoce e/ou excessivo de álcool. Isso é importante, mas também precisamos discutir a relação deles com os colegas bebedores, fazer com que as reflexões e os posicionamentos preventivos surjam do próprio jovem, que ele veja seus objetivos e ideais relacionados com os comportamentos preventivos, precisamos discutir com eles sobre a cultura alcoólica na qual estamos inseridos e reproduzimos sem perceber, precisamos dar voz àqueles adolescentes que não concordam e não aprovam o padrão de consumo dos pares, precisamos encontrar maneiras de fazê-los ver que existem formas mais eficientes de atingirem o que buscam do que consumindo álcool.
Para isso, como educadores, nossa primeira tarefa é questionarmos a relação que nós mesmos estabelecemos com a bebida e buscarmos realmente acreditar e agir de acordo com o as mensagens que queremos transmitir. Se isso for conseguido, uma pequena dose de criatividade e estratégia didática resolvem a questão. Como diz Jung: “o bom exemplo é o melhor método de ensino”. Uma boa técnica aliada a ao bom exemplo talvez seja o melhor método de prevenção.
Comente
Comente