Alcoolismo na adolescência – perguntas e respostas

EXISTE ALCOOLISMO NA ADOLESCÊNCIA?

Sim, mas não da mesma forma como em adultos. Enquanto um caso grave de alcoolismo em pessoas adultas vai se caracterizar pela síndrome de abstinência (tremedeiras ou alucinações quando para de beber), um caso considerado grave na adolescência se caracteriza pela recorrência de problemas significativos decorrentes da bebida (ex. brigas, acidentes, problemas escolares, afastamento de amigos, episódios depressivos), pela perda de controle da quantidade que bebe quando começa a beber e pela necessidade de cada vez mais bebida para chegar ao estado “bêbado”.¹

É como se na adolescência houvesse um tumor maligno, ainda passível de ser removido, mas que já constitui um câncer. Se nada for feito a respeito, é uma questão de tempo para que ocorra metástase e o câncer se espalhe pelo corpo todo.

 

COMO SABER SE UM ADOLESCENTE TEM ALCOOLISMO?

Além dos sintomas listados na pergunta anterior, outro critério que pode ser usado para indicar alcoolismo entre adolescentes² é um questionário autoadministrado chamado CAGE, composto de 4 perguntas:

1)   Alguma vez você sentiu que deveria diminuir a bebida ou parar de beber?

2)   As pessoas o incomodam porque reclamam do seu modo de beber?

3)   Você já se sentiu culpado pela maneira com que costuma beber?

4)   Você bebe pela manhã para diminuir a ressaca ou o nervosismo?

Duas respostas afirmativas indicam que a possibilidade de alcoolismo deve ser investigada e que alguma medida deve ser tomada pela família para impedir o desenvolvimento da doença. No caso dos adolescentes, um limite bem dado faz toda a diferença (veja um exemplo de como dar limites aos filhos), acompanhado da ida a um psiquiatra para uma conversa e avaliação.

 

O QUE LEVA UM ADOLESCENTE A DESELVOLVER ALCOOLISMO?

Um estudo da Universidade do Chile³ concluiu que os dois fatores que melhor predizem o consumo futuro de bebidas alcoólicas são o consumo dos pares e o padrão de consumo inicial do adolescente. Ou seja, se os amigos bebem e se o adolescente, já de início, começou a beber passando dos limites, existe uma tendência desse padrão se manter e se agravar.

Outros fatores que comprovadamente influenciam a conduta de uso ou abuso de álcool entre jovens são as características de personalidade (ex. extroversão e necessidade de novas sensações), expectativas positivas sobre o efeito do álcool, a existência de um motivo específico para beber e a facilidade de acesso a bebidas alcoólicas.

Há estudos que também comprovam a existência de um componente genético no alcoolismo e a influência que exerce o padrão de consumo dos pais (para a família é normal encher a cara em festas, no churrasco de fim de semana ou passar o dia inteiro na praia bebendo?). Portanto, não há como apontar para um único fator responsável. É sempre uma conjunção de inúmeros fatores.

 

TENHO VÁRIOS CASOS DE ALCOOLISMO NA FAMÍLIA E MEU FILHO ADOLESCENTE CHEGOU BÊBADO EM CASA OUTRO DIA. DEVO ME PREOCUPAR?

Sim e não. Sim, porque um filho adolescente chegar bêbado em casa é motivo de preocupação e pretexto para uma boa conversa sobre o tema (veja dicas de como conversar com os filhos sobre álcool) e para o estabelecimento de alguns limites em casa.

E não, no sentido de que você não deve se preocupar tendo em mente os casos que existem na família, porque o fator genético tem apenas uma parcela de influência sobre o desenvolvimento do alcoolismo e não será o maior problema. Mas muito cuidado, pois já tendo passado por situações difíceis com relação ao tema, sua preocupação pode fazer com que você trate seu filho como se ele já fosse um projeto de alcoolista. E como dizia Goethe: “Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser e você as ajudará a se tornarem aquilo que são capazes de ser”.

 

Existem estágios de consumo antes de chegar ao alcoolismo?

A literatura faz algumas divisões sobre os padrões de consumo do álcool. As mais próximas do alcoolismo na adolescência são o abuso de álcool e o chamado binge drinking (bebe esporadicamente, mas quando bebe sempre passa dos limites).

A identificação do alcoolismo, principalmente em adolescentes, é algo delicado. A transição do abuso ou do binge drinking para o alcoolismo é como a transição da tarde para a noite. Sabemos quando a noite está chegando, podemos dizer que o sol está se pondo e podemos definir o crepúsculo, mas não conseguimos apontar exatamente o momento em que a tarde se vai e vira noite. Só podemos afirmar depois que a noite já se instalou.

Assim como não esperamos a noite para acender os faróis do carro, não precisa esperar o alcoolismo se instalar para fazer alguma coisa. Se o beber está gerando problemas, está na hora de alguma mudança.

 

¹ adaptado de KAPLAN & SADOCK. Compêndio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artmed, 2007.
² SOUZA, D. P. O.; ARECO, K. N.; FILHO, D. X. S. (2005) Álcool e alcoolismo entre adolescentes da rede estadual de ensino de Cuiabá, Mato Grosso. Rev. Saúde Pública, 39(4), 585-92.
³ PILATTI, A.; BRUSSINO, S. A.; GODOY, J. C. (2013) Factores que influyen en el consumo de alcohol de adolescentes argentinos: un path análisis prospectivo. Revista de Psicologia, Universidad de Chile, 22(1), 22-36.

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