Tem problema o jovem experimentar a droga? E será que tem problema ele ser apenas um “usuário recreativo”? O objetivo da prevenção é evitar que ele experimente? Ou é evitar que se torne um usuário frequente? Ou, quem sabe, é evitar apenas que se torne abusador ou dependente?
A PIRÂMIDE DO CONSUMO
Experimentação, uso, abuso e dependência. De forma geral, esses são os principais padrões de consumo de drogas quando falamos de prevenção.
O panorama desses padrões pode ser representado por uma pirâmide mais ou menos assim:
A base é constituída por experimentadores. Parte desses experimentadores se converte em usuário e constitui o degrau de cima. Da mesma forma, parte dos usuários se converte em abusador e parte dos abusadores se converte em dependente. Quanto mais perto do topo, menor a quantidade de sujeitos e maiores os prejuízos do padrão de consumo. Claro que o formato da pirâmide muda de acordo com cada droga, mas o conceito é sempre o mesmo. Quanto maior a base, maiores os outros níveis.
O OBJETIVO DA PREVENÇÃO
Independentemente do tipo de padrão de uso que é prejudicial, existe um objetivo mais abrangente a ser atingido com a prevenção: diminuir as desastrosas consequências sociais das dependências químicas. Isso no âmbito social.
No âmbito individual, queremos que o jovem construa uma vida significativa, que seja útil para a sociedade e possa fazer alguma diferença para melhorar o meio em que vivemos.
Considerando os âmbitos social e individual, os padrões de abuso e dependência claramente devem ser evitados. Mas e a experimentação e o “uso recreativo”, devem ser também?
Há quem diga que não.
DIZEM ISSO POR QUE O USO DE DROGAS É INERENTE AO SER HUMANO, CERTO?
Esse é um raciocínio até bastante comum entre estudiosos da área, de que a experimentação e o uso recreativo controlado são aceitáveis, dada a inevitabilidade deles e os pequenos prejuízos que causam. Mas vamos ver essa questão por outro lado.
Não sejamos ingênuos em pensar que nossas escolhas de consumo são decididas exclusivamente por nós. Somos constantemente bombardeados por informações que influenciam nossas escolhas de consumo. Os jovens que optam por experimentar drogas também são influenciados para isso. São bombardeados por estímulos favoráveis às drogas.
O narcotráfico considera essa pirâmide da mesma maneira e ataca nas duas vertentes que interessam para eles: buscando aumentar o volume da base e aumentar a taxa de conversão de um patamar para outro. Em outras palavras, conquistar novos usuários (leia-se mais experimentadores) e “fidelizá-los” como consumidores regulares. Se você duvida, leia um pouco sobre a narcopublicidade.
Portanto, achar que a experimentação ou uso recreativo fazem parte da natureza do ser humano e não constituem um problema é um dos pontos fracos das nossas tentativas infantis de lutar contra um movimento extremamente bem organizado que favorece o uso de drogas, e para quem interessa a existência de cada vez mais experimentadores e usuários.
Se quisermos diminuir os níveis mais altos da pirâmide do consumo, primeiro é preciso diminuir a base, ou seja, combater a experimentação ou atrasá-la, pelo menos; segundo, é preciso diminuir a taxa de conversão de um nível a outro, em outras palavras, trabalhar para que experimentadores e usuários não se tornem abusadores e dependentes.
Não vamos fragmentar nossos esforços de prevenção com um discurso supostamente compreensivo em relação ao consumo de drogas, enquanto os esforços de promoção das drogas estão integrados e atacando em todas as frentes possíveis. Essa já não é uma luta fácil, lutar com uma mão só poderá ser a causa do nosso nocaute.
Comente
Comente