Palestras sobre drogas funcionam?

Palestras. Normalmente esta é a primeira imagem que vem à mente das pessoas quando se fala em prevenção ao uso de drogas. Se aprofundarmos um pouco vamos descobrir, muito provavelmente, que o conteúdo destas palestras imaginárias inclui as desastrosas consequências do uso, relatos de pessoas que levaram o consumo às consequências mais extremas ou informações sobre os tipos de drogas e seus efeitos.

Palestras tradicionais sobre drogas

Mas adianta ministrar este tipo de palestra para adolescentes, buscando a prevenção?

Intuitivamente, sabemos que não. E praticamente todos os estudos (pelo menos que já li) sobre o tema também afirmam que não, que palestras avulsas não surtem efeito.

Por que, então, seguimos insistindo nessa ideia? Será que deveríamos abolir as palestras sobre drogas das escolas? Mudar o formato delas? O que deveríamos fazer?

O principal problema não está no conceito de palestra em si, mas na forma e no conteúdo das tradicionais palestras. Como afirma Guy Kawasaki, 99% das palestras é uma droga, pois são longas, chatas, com slides ruins e conteúdo irrelevante*. Que resultados poderíamos esperar de uma palestra com estas características?

Palestras sobre drogas

Queremos influenciar os jovens, motivá-los a não usar drogas, incentivá-los a ter uma vida satisfatória, livre. Não adianta só falarmos mal das drogas para isso. Ainda mais de forma acadêmica, como se estivéssemos em uma aula de biologia falando sobre as doenças causadas por nematelmintos e platelmintos.

Mensagens batidas como “diga não” ou “drogas leves poderão te levar a drogas pesadas” também não têm mais espaço na mente dos jovens. As campanhas de prevenção com essas mensagens foram julgadas pelo próprio público-alvo delas como pouquíssimo eficazes**.

Não adianta apenas informar ou dar lições de moral. É preciso vender uma nova ideia. Motivar os jovens a pensar de novas maneiras. A forma e o conteúdo de uma palestra que busca isso são completamente diferentes. Ela deve cutucar os anseios do público e mostrar possibilidades, deve dizer o que eles estão fazendo de errado para conseguir o que querem. Deve ser relevante para o público que está ouvindo.

Quem nunca assistiu a uma palestra ou a uma aula que mudou sua forma de ver uma determinada questão por levá-lo a pensar algo que nunca tinha pensado antes?

Gerando insights

É isso que uma palestra sobre drogas pode fazer pelos jovens. Colocar aquela “pulga atrás da orelha” deles, levá-los a pensar em mais perspectivas sobre o assunto, jogar uma semente de conflito nas crenças estabelecidas sobre as drogas.

Com certeza não podemos esperar que a palestra seja a solução para o uso de drogas na escola. Mas também não precisamos esperar que sirva apenas para preencher o horário destinado a palestras daquela semana.

Claro que um programa completo de prevenção é mais eficaz que uma palestra sozinha. Sabe-se que a dose (o quanto o jovem estará exposto aos estímulos preventivos) é um dos fatores de sucesso nos programas de prevenção.

No entanto, uma palestra pode sim fazer a diferença, desde que surpreenda o jovem, deixe-o intrigado, leve-o a pensar em coisas que nunca havia pensado, seja relevante para ele e utilize estratégias de influência para transmitir a mensagem desejada.

Palestras sobre drogas funcionam?

Dependendo do conteúdo e forma, sim. Para quê? Para plantar uma semente que poderá ser cultivada e dar como frutos novas crenças e posicionamentos sobre as drogas. E os professores poderão fazer o papel do jardineiro que irá cultivar essa semente.

 

*Prefácio escrito por Guy Kawasaki para o livro “Apresentação Zen”, de Garr Reynolds.

**FERRI, M; ALLARA, E; BO, A; GASPARRINI, A; FAGGIANO, F. (2013) Media campaigns for the prevention of illicit drug use in young people. Cochrane database of systematic reviews (Online), 6.

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