Resolução de problemas é uma das habilidades mais importantes para a prevenção ao uso de drogas. Programas de prevenção renomados, tais como o Unplugged e o Saluda, propõem métodos de resolução de problemas e atividades para que o jovem teste estes métodos e aprimore essa sua capacidade.
Estudando esses programas e alguns artigos da área, diversas vezes me perguntei “mas que tipo de problema o adolescente tem, que sente dificuldade para resolver? Entendo que o método serve para qualquer problema, mas para qual ele efetivamente irá utilizá-lo?”
Motivado por essa inquietação, pedi para 210 alunos de 12 e 13 anos, que estavam iniciando o programa de prevenção, escreverem em um pedaço de papel um problema que gostariam de ver resolvido e de discutir ao longo dos encontros que teríamos.
Como não sabia o que esperar, obviamente as respostas me surpreenderam. Primeiro, por entender o que é mais importante para eles. Segundo, pela repetição de temas que ocorreu.
Eis os 3 problemas mais relevantes apresentados por esses adolescentes:
1º – “Às vezes eu penso que não tenho amigos verdadeiros que me ajudem quando eu precisar.”
Esta frase é um exemplo um pouco mais profundo das muitas frases sobre a dificuldade de fazer amigos sentida por vários adolescentes. Outros exemplos são: “não consigo fazer amigos e me relacionar”, “sinto dificuldade de fazer amigos”, “eu tenho problema na questão social, pois não tenho muitos amigos”.
O grande número de papeis com este tipo de problema seguramente está relacionado ao fato de a adolescência ser uma fase em que “sentir-se parte do grupo” é algo muito importante. Não é à toa que uma das grandes motivações para o uso de drogas na adolescência é a pressão do grupo. O jovem tem uma tendência natural a fazer o que for preciso para se identificar e ser aceito como igual em um grupo de pares.
Os psicólogos clínicos, seguramente, afirmariam que a dificuldade de fazer amigos não é um problema apresentado apenas por adolescentes, mas também por muitos adultos. Mas parece que a diferença é o grau de importância que cada um atribui a ele. Para os adolescentes, é de importância máxima.
2º – “Tenho dificuldade de me abrir com meus pais e acabo me afastando”
Outras frases relativas a problemas com os pais são: “Meus pais são separados e cada vez um fala uma coisa sobre o outro. Eu não sei em quem acreditar”, “O que posso fazer para parar de brigar com minha família?”, “Meu pai fica nervoso e tenho medo do que ele pode fazer”, “Brigas e separação na família”.
Os temas que mais surgiram com relação a problemas familiares foram as brigas e a distância entre pais e filhos e o divórcio dos pais.
Quem trabalha com adolescentes sabe que o uso de drogas caminha lado a lado com a desestruturação e os problemas familiares. Uma boa relação entre pais e filhos, sem dúvida, é um ótimo fator de prevenção.
Perguntaram certa vez a um especialista argentino em prevenção ao uso de drogas após uma de suas conferências: “Depois de toda essa sua explicação, se o senhor tivesse que dizer qual é a melhor forma de prevenir o uso de drogas entre nossos filhos, o que diria?”. Ele fez uma breve pausa e respondeu: “Uma boa conversa após as refeições”.
3º – “Eu faço o meu melhor. Fazem bullying comigo”
Tema bastante em alta atualmente, o bullying também aparece como um dos maiores problemas a ser enfrentado por boa parte dos adolescentes. Ele está lado a lado com questões de discriminação e exclusão social.
A preocupação deles está tanto em sofrer bullying quanto em ter um amigo que sofre: “meus amigos sofrem bullying”, “pessoas ficam brincando com coisas que eu gosto”, “sofro preconceito e fico bem triste”, “sofro cyberbullying”, “não sou aceito do jeito que sou”.
Pergunta de um aluno: mas qual é a relação entre o bullying com o uso de drogas?
Não conheço nenhum estudo específico sobre isso. Mas sei que sofrer bullying está relacionado à baixa autoestima, à dificuldade de adaptação social e à maior probabilidade de suicídio. E estes fatores, sim, estão intimamente ligados ao uso de drogas.
Sabendo disso, talvez seja válido em um programa de prevenção, além de desenvolver a capacidade dos jovens de resolver problemas, conversar com eles sobre as dificuldades familiares, o bullying, o isolamento social e outras questões específicas da realidade deles. E discutir, em conjunto, o que dá para fazer para superar esses problemas pontuais.
Temas muito delicados para tratar em sala? Sem dúvida. Mas os adolescentes parecem gostar e se interessar bastante quando alguém lhes dá a mão e entra com eles nessas questões.
E os pais, o que devem fazer?
Não percam a oportunidade de também dar a mão e entrar nesses temas com seu filho. Afinal de contas, você sabe que problemas seu filho enfrenta?
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