Desde o último post fiquei com aquela palestra TED, de Johann Hari, rodando em minha mente por algum tempo depois de assisti-la.
“O contrário da dependência química não é sobriedade, mas conexão”.
Essa frase conclusiva de Hari ficou ecoando em meus ouvidos, enquanto eu pensava que o real objetivo da prevenção talvez não fosse convencer o jovem a não usar drogas. Talvez a chave da prevenção fosse dar condições a ele para que consiga criar conexões positivas e ter uma vida conectada e satisfatória, seja com os estudos, com a família, com os amigos, com um esporte ou com qualquer coisa que lhe traga sentido e satisfação.
Ele não pode permitir que a sua vida seja como aquela gaiola vazia e isolada dos ratinhos que se matavam de overdose nos primeiros experimentos feitos com drogas.
Não é por acaso que os jovens que apresentam problemas familiares, dificuldades de criar vínculos duradouros com as pessoas, relações precárias com a escola, normalmente, são aqueles que também apresentam problemas com drogas.
Faz sentido as pesquisas apontarem, há tempos, que ações tradicionais como assustar os jovens quanto às drogas ou informa-los sobre seus efeitos e prejuízos não dão o resultado esperado.
Faz sentido que os programas de prevenção mais modernos e eficazes, como os europeus UNPLUGGED e SALUDA, tendem a falar menos sobre drogas e a focar mais na construção de habilidades como resolução de problemas, comunicação, expressão de sentimentos e resistência à influência do grupo.
Os jovens enfrentam problemas concretos na vida. Muitas vezes esmagadores, que geram um profundo desejo de fugir do mundo. Não há o que fazer e não há nada a perder. Não existem vínculos e conexões que sustentem a sua existência. Não usar drogas por quê? Para não prejudicar o meu futuro? Qual futuro? Pelo menos esqueço um pouco da realidade agora e depois vejo o que fazer.
Fazendo um teste com uma pequena amostra de 60 alunos, pedi para escreverem em um papel um problema que gostariam de ver resolvido. A maioria escreveu sobre problemas de relacionamento com os pais, sobre dificuldades com relação a amizades e sobre bullying.
Já conversaram com alguém sobre isso? Alguém já lhes ensinou a lidar com esses problemas? Vocês têm ideia do que podem fazer para melhorar a situação?
Não. Não. E não.
“Não importa. Vamos ao que interessa… digam não às drogas!”.
Nesse contexto, soa bastante improdutivo.
Se eles não tiverem a capacidade de criar conexões positivas na vida, seja com os estudos, com a família, com os amigos, com um esporte, por que não se conectar com a droga? Uma conexão fácil e que traz um alívio imediato para sua incapacidade de conectar-se com a vida.
Claro que há mais fatores envolvidos e que esta questão é bastante complexa, como já conversamos algumas vezes. Mas, de qualquer forma, essa perspectiva merece um espaço considerável nos programas de prevenção.
Espero estar dando um tiro certo ao acrescentar nos encontros com os alunos temas como amizade, bullying e relacionamento com os pais. Por enquanto, parece que eles estão aprovando o acréscimo.
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