A velha discussão sobre se a maconha faz mal, não faz mal, vicia, não vicia, se deveria ser legalizada ou não, há tempos não vai para lugar nenhum. Existem evidências contraditórias sobre as consequências do uso dela e os argumentos de um lado são tão bons quanto os do outro.
No meio de toda esta discussão, acontece que quem quer fumar maconha continua fumando, quem não quer, permanece não fumando, e o número de adolescentes que passam a se envolver com a droga, dada a grande publicidade existente em torno dela, é cada dia maior.
Mas qual seria o problema de fumar maconha?
A comunidade científica tem dificuldade em demonstrar sintomas de dependência física ocasionados pela maconha (pois o THC se acumula no tecido adiposo e permanece no corpo por mais de uma semana, o que impede a eliminação súbita da droga evitando sintomas agudos de abstinência e, normalmente, o usuário ainda mascara os sintomas de abstinência existentes fumando tabaco) e os danos mais graves causados por ela só conseguem ser demonstrados em usuários de longa data e com uso intenso da droga. Como então argumentar com um adolescente para que não fume maconha porque ela faz mal ou porque vicia?
É interessante lembrar que, apesar da maioria das pessoas que já usou maconha não ter desenvolvido a dependência química, a grande maioria dos dependentes químicos começou com a maconha. E como dá para explicar isso?
Um dos grandes problemas sobre o uso de maconha entre adolescentes é a questão da “transgressão”. Transgredir significa exceder limites e, quando o adolescente decide experimentar maconha, ele passa a transgredir, ele rompe uma fronteira de limites, quer sejam os limites da lei, da sua família ou do meio em que vive.
Desde o ponto de vista da Psicanálise, segundo Claude Olievenstein, uma das condições para que a dependência química se instale é a relação que o sujeito estabelece com a transgressão da lei, sendo “lei” qualquer tipo de autoridade ou limite. Em outras palavras, é quando o sujeito não aprende, de alguma forma, a respeitar limites.
Então, o uso da maconha é o início do contato do adolescente com a transgressão. Se, a partir disso ele estabelecer uma relação com a transgressão, ele já cumpre a condição para o desenvolvimento da dependência química.
O psicólogo social Philip Zimbardo explica de forma simples como a relação com a transgressão se dá: “se a pessoa comete um pequeno desvio, tende a considerar o seguinte apenas um pouquinho pior”, até que lhe seja dado um limite que não consiga transgredir.
Portanto, talvez o problema central não esteja na maconha, mas sim nos limites (ou na falta deles) que o adolescente vai encontrar no seu meio. Seus pais vão se posicionar com relação a isso ou vão fingir que não está acontecendo nada, que é só uma fase e que passa? A escola vai tomar providências de abrir a situação com os pais e até de punir o adolescente caso esteja usando dentro da instituição? Algum amigo vai se manifestar contra o uso de drogas?
Se o adolescente for capaz de seguir transgredindo os possíveis limites que apareçam, o uso de maconha passa a ser para ele apenas um “pequeno desvio”, que abre precedentes para outros desvios um “pouquinho piores”. Por que então não experimentar skunk (maconha com alta concentração de THC) ou cocaína? E assim a dependência química vai se instalando.
Então, a “banalização da transgressão” através da maconha tem sua parcela de responsabilidade no aumento do consumo da droga entre jovens e no consequente aumento dos índices de dependências químicas.
Maconha (não) faz mal?
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