A prevenção ao uso de drogas é uma questão de persuasão, tal qual a promoção das drogas.
O objetivo da prevenção é persuadir os jovens a adotarem uma postura firme e duradoura contrária ao uso de drogas, enquanto que o objetivo da promoção é persuadi-los de que seus anseios serão supridos pelo uso delas.
Listo a seguir cinco dicas para aumentar o seu poder de persuasão com os alunos e ser mais eficaz em suas tentativas de prevenir o uso de drogas.
Estas dicas estão baseadas em inúmeras pesquisas da área de Psicologia Social [1], que demonstram que, ao utilizá-las, as pessoas se tornam mais propensas a aceitar a mensagem transmitida.
Dicas que são utilizadas com maestria por aqueles que promovem as drogas e que são praticamente ignoradas por nós, que queremos contribuir com a prevenção.
1) NUNCA PAREÇA QUERER CONVENCÊ-LOS DE ALGO
Uma mensagem sempre é mais persuasiva quando a fonte desta mensagem é vista como confiável.
Alguém que quer convencê-lo de algo não parece confiável, afinal de contas, se precisa convencê-lo, deve estar pensando apenas nos próprios interesses e querendo que você contribua com eles. E isso aumenta a resistência do receptor da mensagem.
Os jovens precisam ver você como uma fonte confiável do que está sendo dito sobre drogas. E uma das formas pelas quais a confiança deles é conquistada é eles sentirem que você não quer convencê-los de nada. Que você, na verdade, nem se importa se eles pensam diferente daquilo que você está falando.
Uma possível estratégia para conseguir isso é, em alguns momentos, argumentar contra si mesmo e sempre mostrar que a escolha de usar drogas ou não é deles e que você respeita a escolha que eles resolvam fazer durante a vida.
Assim eles não se sentirão coagidos, diminuindo a resistência deles, aumentando a receptividade às suas mensagens e, por consequência, o seu poder de persuasão.
2) GERE SITUAÇÕES E SENTIMENTOS AGRADÁVEIS
Diversas pesquisas na área da Psicologia Social mostraram que as mensagens se tornam mais convincentes quando são associadas a bons sentimentos.
Nosso desafio, ao propor a prevenção na escola, em sala de aula, é conseguir gerar bons sentimentos em um contexto que eles, muitas vezes, consideram “chato, obrigatório e, infelizmente, necessário”. Para isso é importante criarmos formas de marcarmos uma mudança de contexto para eles. Para que eles associem as mensagens de prevenção às drogas a sentimentos diferentes dos que eles têm sobre as matérias que passam o dia inteiro ouvindo.
Para isso podemos tirá-los de sala para as atividades de prevenção, afastar as carteiras e sentar em círculo no chão, evitar aquela divisão hierárquica professor-aluno, usar do bom humor ou fazer qualquer coisa diferente que torne aquele momento o mais agradável e interessante possível para os alunos.
3) REPITA CONSTANTEMENTE OS PONTOS MAIS IMPORTANTES
“Toda propaganda eficaz deve se limitar a uns poucos pontos e deve bater nesses slogans até que o último membro do público entenda.”
Este é um conceito publicitário amplamente utilizado para aumentar o consumo de drogas.
Inúmeros sites, blogs, reportagens, revistas, músicas e filmes batendo sempre na mesma tecla: o quanto a maconha é inofensiva. Assim como propagandas de bebidas alcoólicas que sempre batem no mesmo ponto: diversão e erotismo.
Para lutarmos contra isso, não adianta dar um bilhão de informações e razões diferentes para os alunos não usarem drogas. Devemos encontrar os pontos fundamentais da nossa mensagem e apenas repeti-los de formas diferentes.
É interessante lembrar que os pontos escolhidos devem ter relevância para o jovem. “Fumar maconha te deixa para trás dos seus colegas.”, “Usar drogas te deixa cego para ver seus amigos de verdade se afastando”, “Encher a cara em festas faz com que os outros deem risada de você e não mais com você.” Enfim, use a sua criatividade para criar as mensagens e as formas de transmiti-las. E concentre-se incansavelmente nelas.
4) LEVE-OS A PRATICAR OS COMPORTAMENTOS DESEJADOS
O que você lembra da sua faculdade? Provavelmente não são os conteúdos elaborados cuidadosamente pelos seus dedicados professores, mas sim as situações em que você colocou a mão na massa. Pensando no meu curso de Psicologia, o que me vem primeiro à mente são as experiências que fiz com ratinhos e os estágios. Não lembro muito das longas explicações sobre psicanálise.
Nossa memória é inclinada a gravar mais estavelmente o que aprendemos na prática. Portanto, dentre as ações de prevenção ao uso de drogas devemos incluir dinâmicas, vivências e simulações.
Levar os jovens a experimentar a pressão de grupo conscientemente, levá-los a resistir a esta pressão na prática, criar situações que gerem neles uma marca emocional e, depois, conversar sobre as experiências e sensações vividas são coisas que tornam estas ações inesquecíveis.
5) VACINE-OS CONTRA OS ARGUMENTOS FAVORÁVEIS ÀS DROGAS
Uma vacina consiste em estimular as defesas de uma pessoa através da inoculação de uma pequena dose de material ameaçador. Um vírus “atordoado” que não vai chegar a fazer mal, mas vai estimular as defesas do organismo.
Com crenças e atitudes funciona da mesma maneira. Exponha os alunos a leves ataques às atitudes e crenças que você quer construir neles e estimule-os a se defenderem.
É bancar o “advogado do diabo”. Use os piores argumentos a favor das drogas, para que os alunos possam defender o lado contrário a elas. Fale que você ouviu dizer que usar drogas resolve seus problemas e pergunte o que eles acham disso. Fale que ouviu dizer que fumar maconha não tem problema porque “é natural” e estimule-os a contra-argumentar. Deixe que eles pensem e construam seus próprios argumentos.
Enfim, leve-os a defender o lado que você quer que eles defendam. Ao estimulá-los a refutar este tipo de argumento, quando vierem ataques mais fortes eles terão refutações disponíveis. E isto vai reforçando as crenças deles úteis à prevenção de drogas.
[1] MYERS, D. G. Psicologia Social. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
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