Ter um aluno envolvido com drogas, infelizmente, é uma situação cada vez mais comum nas escolas. Mas não devemos achar que está tudo perdido, pois ainda é uma absoluta minoria que usa drogas. No entanto, hoje em dia as escolas não têm como escapar desse tipo de situação. É algo que não dá mais para esconder.
Normalmente, o fato de um aluno estar usando drogas vem à tona, primeiro, por intermédio de boatos, o que torna as coisas um pouco difíceis, pois o que se pode fazer tendo como base um boato? Não é suficiente nem para falar com o aluno ou com os pais e nem para tirá-lo da escola (como é a vontade de muitos gestores). Um provável desfecho disso é uma tímida tentativa de lidar com a situação que, normalmente, não dá resultados. “Tentamos e não adiantou”. A estratégia, então, passa a ser não tocar mais no assunto, fingir que o problema não existe e torcer para que a situação mude por si só ou para que ele seja pego em flagrante justificando um “convite a se retirar da escola”.
Por que as coisas acontecem assim?
Porque ninguém vê saída para o problema de uso de drogas e, portanto, ninguém assume a responsabilidade de reverter a situação. Os pais se sentem num quarto escuro, sem saber o que fazer, e tentam, de alguma forma, colocar a culpa na escola e nos colegas que lá estão. A escola tem dificuldade de orientar os pais na direção de uma solução efetiva, e a real pergunta dos educadores é “o que podemos fazer para dizer que nossa parte foi feita e que o problema agora é dos pais?”. E a coisa vai se transformando em uma brincadeira de batata quente, sem que ninguém perceba.
Quem é culpado disso? Ninguém. O que leva as pessoas a essas condutas é a falta de conhecimento sobre as dependências químicas. “Quer dizer, então, que as pessoas da escola devem se capacitar em dependências químicas?”. Sabemos que isso seria inviável, dada a carga de trabalho e outros temas com os quais a escola tem que se ocupar.
“Mas e na prática, então, o que dá para fazer quando um aluno está usando drogas?”.
A escola não deve omitir dos pais a informação de que o aluno usa drogas, até por questões éticas. Portanto, a primeira coisa a fazer é conversar com eles. E aqui que está o primeiro e maior desafio.
COMO FALAR PARA OS PAIS QUE O FILHO ESTÁ USANDO DROGAS?
Por mais que seja difícil ter provas concretas do uso, é importante buscar o máximo de confirmações possível, perguntando a colegas ou a professores sobre aquele aluno. São os fatos que levantaram a suspeita que devem ser relatados aos pais e não a acusação de que o filho está usando. A conversa com eles deverá ter 3 objetivos:
1) Mostrar aos pais que a escola está trabalhando JUNTO com eles para o desenvolvimento do filho, por isso estão tendo essa conversa;
2) Transmitir a segurança de que isso acontece com os melhores jovens e que esse é o momento ideal de lidar com esse tipo de situação antes que fique grave (para não desesperar os pais ou levá-los a negação, por falta de saída);
3) Oferecer a eles uma alternativa concreta de solução.
Para a condução dessa conversa, eis 6 dicas para facilitar o desafio que é sentido pelos educadores nesse momento:
Dica 1:
Começar a conversa relembrando os pais de que o objetivo da escola junto com eles é promover o desenvolvimento do filho.
“Olá Dona Maria, nós a chamamos para conversar porque estamos cuidando, junto com a senhora, do desenvolvimento do Júnior. Nosso objetivo principal é garantir esse desenvolvimento e sabemos que é o que a senhora quer também. Está acontecendo uma situação que nos preocupou, que pode estar atrapalhando ele.”
Dica 2:
Introduzir o tema drogas falando sobre o problema que enfrentamos com relação a nossa cultura atual que cria muitas possibilidades dos jovens usarem drogas.
“Como a senhora deve observar nos meios de comunicação, nossa cultura atual está criando cada vez mais possibilidades de os jovens usarem drogas. Desde esses discursos a favor da maconha que estão em todo lugar, até a facilidade de acesso à droga, que está presente em cada esquina.”
Dica 3:
Apresentar que a escola está fazendo sua parte e relatar os fatos com relação ao filho, sem acusá-lo diretamente. Ex. “alguns alunos comentaram que seu filho estava usando”, “viram seu filho fumando na rua”, “ele tem apresentado mudanças de comportamento que nos preocuparam”.
“Por isso realizamos aqui um programa excelente de prevenção ao uso de drogas e estamos bastante atentos a esse tipo de situação que surge. No caso do seu filho, alguns colegas dele vieram dizer que estavam preocupados porque ele estava fumando maconha e queriam ajudá-lo. Por isso chamamos a senhora aqui.”
Dica 4:
Se a reação dos pais for proteger o filho como “meu filho não faria isso” ou “meu filho não mente e me falou que não está usando nada”, entre outras variações, diga que já viu casos de ótimos alunos e filhos que passaram por essa situação e que isso não é grave, mas pode ficar se não investigarmos.
“Mas não precisa se desesperar. Às vezes as circunstâncias levam jovens que são ótimos alunos e filhos a se envolver com essas porcarias. Isso acontece. O importante é a gente não deixar que isso continue. Essas situações só trazem consequências mais sérias quando não fazemos algo a tempo. Se esse for realmente o caso, sabemos exatamente o que fazer para ajudar a senhora e seu filho.“
Dica 5:
Relembre aos pais o objetivo que vocês têm em comum com relação ao filho, colocado no início da conversa.
“Pode contar com a gente, pois estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para que seu filho cumpra os objetivos dele aqui na escola. Nesse momento queríamos pedir a sua ajuda para investigar essa situação, para não deixar que esse tipo de coisa atrapalhe o Júnior.”
Dica 6:
Dê uma saída simples e concreta aos pais, para que saibam o que podem e devem fazer após essa conversa.
“Temos uma parceria com profissionais especialistas em prevenção ao uso de drogas que poderão ajudá-la a saber exatamente a realidade do seu filho em relação a drogas, se está usando ou não, e o que é possível fazer para lidar com a situação. Acho que seria interessante que você entrasse em contato com eles, como uma medida preventiva.”
Tendo em vista a dificuldade da dica 6, criamos um projeto de intervenção precoce ao uso de drogas, justamente para dar o suporte necessário às famílias que estão passando por essa situação.
Assim que os pais entram em contato conosco, explicamos de forma simples os passos que devem ser dados para evitar consequências mais graves da continuidade do suposto consumo de drogas. Através de uma avaliação inicial e da parceria com outros profissionais, ajudamos os pais a identificar a realidade do filho com relação às drogas tal qual ela é e a adotar as medidas preventivas que contribuirão para evitar consequências mais graves do eventual uso de drogas do filho.
Assim, queremos que as escolas possam contar com nosso suporte para que não percam seus alunos para as drogas e para que ajudem os pais a não perderem seus filhos para elas.
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