É natural. Na era do fast-food, dos conservantes e dos transgênicos este slogan tem sido utilizado com frequência para publicitar a ideia de que determinado produto está fora deste esquema moderno maléfico à saúde.
Suco natural, adoçante natural, emagrecedor natural, anti-inflamatório natural, cosmético natural, afrodisíaco natural… Parece que chamar qualquer coisa de natural desencadeia em nosso cérebro uma série de associações positivas com relação a essa coisa: que não faz mal, que não foram usadas substâncias químicas maléficas na sua composição, que podemos confiar, que dá para ingerir ou usar sem preocupações, que não possui contraindicações, que não é algo forte ou agressivo.
Com essa onda do natural associado a coisas benéficas que não causam nenhuma espécie de dano, é natural também virou o grande slogan de sucesso da publicidade da maconha. “uma erva natural não pode te prejudicar”, “não fumo cigarro, química mortal, fumo maconha que é erva natural”, “coxinha é que faz mal, maconha é natural”, “100% natural”, “é mato!”, “é só uma planta” são alguns exemplos de variações do mote é natural, utilizado para a maconha.
Este slogan foi tão bem-sucedido em moldar as crenças das pessoas com relação à droga que é comum ouvir adolescentes, durante os programas de prevenção, me perguntarem “mas a maconha, que é só uma planta, também faz mal?” ou “ela é prejudicial, mesmo sendo natural?”. Incrivelmente, a maconha, no imaginário de muitos, está migrando da classificação de drogas para a de plantas e substâncias naturais devido, em grande parte, a este slogan. Um feito incrível da publicidade canábica. Isso sem entrar na questão da “maconha medicinal”, que dá um impulso nessas crenças e que foi bem explorada no livro “Não Dá Nada”.
Mas, se pararmos para pensar, será que as associações que nosso cérebro faz quando ouvimos que algo é natural possuem algum fundamento sólido?
O fato de uma coisa ser natural significa simplesmente que é encontrada na natureza, que não é sintetizada pelo ser humano. Não tem nada a ver com ser bom ou ruim, fazer bem ou mal à saúde. Assim como existem coisas naturais saudáveis e que curam, existem coisas naturais que fazem mal e até matam. Plantas que não podemos tocar, venenos de animais que podem matar, microrganismos que nos deixam doentes, frutas que não podemos comer. Todos naturais.
Portanto, chamar a maconha de natural está certo. Dizer que ela não faz mal porque é natural é uma falácia induzida pela publicidade canábica. Afinal, qualificá-la como natural somente quer dizer que ela é encontrada na natureza, tal como o boldo, a alface, o veneno de jararaca, a urtiga e tantas outras coisas naturais que fazem bem ou que fazem mal ao ser humano.
Para tornar a associação ainda mais absurda é só lembrar que o tabaco também é uma planta, chamada Nicotiana; que o ópio é a resina de uma planta, a papoula; que a morfina é extraída do ópio; que a cocaína é isolada de uma planta, a coca; que os cogumelos alucinógenos são facilmente encontrados na natureza. Ou seja, todas essas drogas também são naturais.
Por que então a maconha está se distanciando das outras drogas no imaginário das pessoas? Por ser natural? Parece que não. Existe um esforço publicitário para isso. E bastante eficaz.
Hitler, em seu livro Minha Luta, disse algo que está sendo seguido à risca pela cultura canábica: “Toda propaganda eficaz deve se limitar a uns poucos pontos e deve bater nesses slogans até que o último membro do público entenda”.
Portanto, na próxima vez que você ouvir uma tentativa de defesa da maconha utilizando o argumento de que ela é uma erva natural ou de que é apenas uma planta, faça um esforço e ajude o indivíduo a refletir um pouco sobre o que ele está falando sem pensar. Essa propaganda leva a consequências pelas quais ele, certamente, não gostaria de se sentir responsável.
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